Excerto do site do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais

 
 
 

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Michael Teague (1932-1999)

Jornalista e fotógrafo de origem britânica, nascido na Índia. Viveu vários anos no Brasil e em Portugal antes de se fixar definitivamente nos Estados Unidos.
O seu interesse pela história e arquitectura de Portugal começou há mais de trinta anos quando, recém-licenciado por Oxford, foi a Angola numa viagem organizada por aquela Universidade. Desde então, viajou reconstituindo a lendária aventura de Vasco da Gama na descoberta do caminho marítimo para a Índia e registando fotograficamente a presença portuguesa do Brasil ao Japão. Nas suas viagens, percorreu mais de 100 000 milhas através de trinta países.
Escreveu para várias publicações internacionais, sendo autor de um livro que inclui fotografias das suas viagens, intitulado In the Wake of the Portuguese Navigators.

Michael Teague: a luz brilhante de um cometa que iluminou brevemente o património português no mundo

Nasceu em Darjeeling, na Índia, a 25 de Dezembro, a noite mais longa do ano depois da qual a luz inicia a sua triunfal conquista sobre as trevas até que por fim mergulha de novo nos dias sombrios do Inverno. Esta efémera trajectória da luz define um pouco a vida de Michael Teague. Ele cruzou brevemente a minha vida profissional com uma aura radiante e depois decidiu abandonar este mundo, deixando memórias de mar e de mágoas, relatos de esplêndidas viagens, imagens do património português espalhado pelo mundo e uma imensa saudade.

Estudou História em Oxford, foi um dilecto aluno do Charles Boxer, autoridade em descobertas marítimas, autor da obra The Portuguese Seaborn Empire. No final do curso fez uma viagem de estudo a Angola e aí apaixonou-se pela arquitectura colonial portuguesa. Deixou-se encantar pela atmosfera peculiar das igrejas, fortes, do casario popular e dos grandes palácios. Em todos eles descobriu uma mesma impressão digital, que reflectia uma cultura miscigenada de enorme harmonia, um casamento quase perfeito entre o estilo europeu e o africano.

Alguns anos mais tarde, sendo já um consagrado e experiente fotojornalista, sediado nos Estados Unidos, cruzou o mundo no rasto dos navegadores portugueses, recriando a lendária viagem de Vasco da Gama até à Índia. Em cada porto, em cada baía, em cada foz de rio em cada cidade, sentiu a mesma maravilha, no Brasil, em Africa, no Golfo Pérsico, na Índia, Japão, China ou em Timor, pressentia o mesmo espírito que o tinha encantado na primeira viagem a Angola. Não poucas vezes recordou a famosa estrofe do poeta Fernando Pessoa quando cantou a epopeia das descobertas " Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?".

Michael Teague percorreu mais de 270 mil quilómetros, em trinta países diferentes, coleccionando muitos milhares de fotografias, num voo de pássaro sobre o vasto património cultural construído em quatro continentes entre os séculos XV e XVII. Guardava as preciosas imagens na cave da sua casa em Washington, DC, como se fosse um tesouro secreto.

O Embaixador de Portugal em Washington sabendo da minha paixão pelas descobertas marítimas avisou-me da existência desta colecção "secreta." Num impulso, com a frustração de alguém que lança ao mar uma carta metida numa garrafa, escrevi a Michael Teague propondo um encontro. Meses mais tarde, alguém bateu à porta do meu gabinete. Um homem bonito, com olhos cor do mar e uma enorme mala de viagem perguntou: "Are you Lourdes Simões de Carvalho?". Respondi que sim. "Good, I am Michael Teague."

Desde então estabeleceu-se entre nós uma sólida amizade e uma cooperação intensa com resultados surpreendentes. Dentre as fotografias a preto e branco, de pungente beleza que trazia na mala, escolhi o acervo da primeira exposição intitulada In the wake of the Portuguese Navigators, itinerada pelo Japão, Macau e Índia. Por fim, a mostra veio para Lisboa. Muito provavelmente pela primeira vez o público português pode apreciar o vasto património construído no tempo da expansão marítima e refazer a peregrinação inspiradora e comovente de Michael Teague, o qual sendo um homem de fina sensibilidade e de enorme cultura tinha o talento de captar a forma e a alma das coisas.

Durante duas décadas, o Ministério da Cultura de Portugal e a Fundação Calouste Gulbenkian itineraram várias exposições na América do Norte e do Sul, Africa, Ásia, Austrália e Europa, sempre com grande impacto. Michael Teague também fazia palestras fascinantes descrevendo a sua emoção enquanto procedia ao registo das imagens.

Um dia, vinte anos depois de entrar no meu gabinete com uma mala cheia de memórias de mar, decidiu abandonar este mundo, deixando o legado das suas extensas viagens em busca de beleza, aventura, sentido da história e de um propósito para a vida.

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Lourdes Simões de Carvalho

Gabinete das Relações Culturais Internacionais
Ministério da Cultura de Portugal